Therion – o verdadeiro Mystic Metal

0

Therion, Therion… Tenho uma boa relação com esta banda, então acho que o meu primeiro texto para a seção Tremendões será sobre ela. A proposta do DELFOS cairá bem para isso, já que dificilmente eu conseguiria ser imparcial aqui.

Conheci o Therion em 2000, uma época que, como o delfonauta pode ler aqui, eu estava de saco cheio de Metal. Foi por indicação de uns thelemitas (acho que não estou muito a fim de explicar o que eles são, mas o delfonauta esperto consegue descobrir por sua conta, caso queira), que, provavelmente, como eu, se identificaram com a proposta temática da banda. O disco que comprei se chama Deggial, e até hoje eu o acho um dos pontos altos da discografia deles. Foi o único disco de Metal que ouvi durante um longo tempo, já que não conseguia encontrar mais nada da banda nas lojinhas de discos de Teresópolis, e, por mais que eu gostasse de Metallica, depois de um tempo fiquei um pouco cansado de só ter os discos deles para ouvir. Pelo menos eram os discos antigos pré-Black Album, mas isso não vem ao caso… 😛

O engraçado é que, por eu não comprar revistas ou acessar sites especializados, achava que essa cena do Metal era limitada a Iron Maidens, Metallicas e outras bandas mais conhecidas. Foi graças ao Therion que acabei me interessando e conhecendo a cena metálica européia.

Antes de falar mais sobre a banda propriamente dita, acho importante dizer que o Therion é a única banda que conheço, além do Death e do Black Sabbath (dignos merecedores de outros Tremendões), que sempre lança discos diferentes uns dos outros sem abrir mão da qualidade (tirando raríssimas exceções – não dá para elogiar muito Forbidden do Sabbath, por exemplo). No mundo musical, quando uma banda diz ‘originalidade’, geralmente está falando de algo chato ou simplesmente mentindo, então isso não poderia ser mais bem vindo. Ah, e ao contrário do Death (Chuck Schuldiner infelizmente não está mais entre nós) e do Black Sabbath (Dio não quer, Ozzy não consegue mais), o Therion está na ativa, firme e forte, lançando discos frequentemente.

Bom, como quase tudo de bom na música, o Therion veio da Suécia. Eu não sei o que é que eles têm na água deles, mas os desgraçados dos suecos quase nunca erram. Diga-se de passagem, a qualidade da água também é boa na Noruega, mas péssima na Finlândia.

Tudo começou em 1987, quando Christofer Johnsson formou uma bandinha chamada Blitzkrieg, com o som mais ou menos influenciado pelo Slayer e pelo Metallica, mas que acabou soando mais para Venom e Motörhead. Isso segundo ele, já que o Blitzkrieg não chegou a gravar nada. A banda acabou e, depois de uns meses, surgiu o Megatherion, que logo depois virou só Therion. O nome veio do clássico disco do Celtic Frost, To Mega Therion (disco obrigatório para qualquer um que goste de Metal, aliás) e o som da banda já era voltado ao Death Metal. Se alguém aí é fã do Therion de primeira viagem, talvez se surpreenda ao saber que os dois primeiros discos são de Death Metal puro, e que o Chris (eu não sou íntimo do cara, mas não ficarei escrevendo Christofer Johnsson toda hora, sinto muito) cantava igual a um demônio bravo no começo da banda. Sim, isso foi um elogio.

Junto com o guistarrista Peter Hansson, o baterista Oskar Forss e o baixista Erik Gustafsson, o Therion gravou algumas demos, um mini-LP e o primeiro disco, Of Darkness, que saiu em 1991 pela Deaf Records. Como eu falei, é um disco de Death Metal puro e cru, mas o mais interessante é que as letras não eram inspiradas no ocultismo, mas sim naquele estilo “a humanidade não presta” típico de bandas de Grindcore ou das colunas do Corrales. Um ótimo disco para quem gosta de Death Metal cru (eu, por exemplo), mas fãs da fase nova da banda devem manter o máximo de distância. E, por curiosidade, quem gosta pode correr atrás do disco Riders Of The Apocalypse, da banda Demonoid. O guitarrista é o Kristian Niemann, atual do Therion, e de quebra os vocais são os bons e velhos guturais do próprio Chris, que foi convidado para gravar o disco. Death de primeiríssima.

No segundo disco, o baixista saiu e… Pô, alguém se interessa muito pelas vááárias mudanças na formação da banda? Cara, eu não. Vou continuar este texto me focando na música, ok? Alguma objeção? Bem, Beyond Sanctorum, o segundo disco era basicamente um disco de Death Metal também, mas já com alguns toques diferentes. A faixa Symphony Of The Dead era mais puxada para Doom, e tinha até alguns vocais femininos. Nessa época, a banda foi até taxada de traidora do movimento e algum zé ruela tentou colocar fogo na casa do Chris. Ah, sim, o disco é de 1992. Nessa época eles ganharam algum status e fizeram uma meia dúzia de shows fora da Suécia.

E, se Beyond Sanctorum teve alguma repercussão por ter alguns toques diferentes, o bicho pegou mesmo com Symphony Masses: Ho Drakon Ho Megas, o terceiro disco, de 1993. Foi uma época onde todo mundo tinha saído da banda, e os membros eram todos novos. O som da banda ficou bastante diferente: os vocais já não eram os guturais de antigamente, ficando um pouco mais gritados, e a “aspereza” diminuiu bastante. Tinha até uns toques de Metal oitentista. Ah, e foi aí que começou a ficar difícil dizer qual era o gênero musical da banda. Digamos que era Metal e pronto. Também tem a capa, que era maneiríssima. Pena que, quando a Nuclear Blast relançou os três primeiros, mudou as capas para um fundo preto com o seiláoquêgrama (esqueci o nome – é aquele círculo com uma estrela de trocentas pontas) típico do Therion.

Para o quarto álbum, de 1995, a banda acabou indo para a Nuclear Blast, uma das maiores gravadoras voltadas para o Metal. Isso significou mais promoção, é claro, e o reconhecimento de que a banda estava crescendo em popularidade. Bem, esse foi Lepaca Kliffoth, com vocais ainda mais diferentes, e com quase mais nada de Death Metal. Segundo a própria biografia da banda, essa era a época em que eles foram mais inspirados por bandas progressivas como Pink Floyd. Sinceramente, eu não vejo nada de Pink Floyd aqui, mas vale como curiosidade saber disso. Foi neste, também, que apareceu a primeira soprano num disco do Therion. Como curiosidade, eu indico que as pessoas ouçam a faixa Lepaca Kliffoth, que é uma das músicas mais sinistras que eu já ouvi na vida, e olhe que eu já ouvi quase tudo de mais maligno que existe no Black Metal.

O sucesso veio de verdade no próximo disco, Theli, dono de uma das piores capas (se não a pior) que eu já vi na vida. Algumas coisas interessantes cercam este disco: primeiro, que, na época, foi o disco mais caro já produzido pela Nuclear Blast. A banda até agradeceu no encarte ao presidente da gravadora, Markus Steiger, por ter vendido o carro dele para financiar a produção (sei lá se foi piada ou não); segundo, que a banda tinha certeza absoluta de que o disco seria um fiasco por ser tão experimental e que, por isso, seria o último; terceiro, que Chris tinha igual certeza de que seria impossível fazer uma turnê, já que o disco contava com vários corais. Bem, tudo acabou dando certo, e Theli vendeu bastante. A turnê foi um sucesso, mas, segundo Chris, as pessoas só gostaram dos shows por terem visto a banda tocando aquilo ao vivo, mesmo que fosse aos trancos e barrancos. É daqui que vieram as famosas To Mega Therion e Cults Of The Shadow, além de outras obrigatórias em shows até hoje.

Com o sucesso, Chris até resolveu lançar um disco comemorativo dos dez anos da banda, em 1997, chamado A’arab Zaraq Lucid Dreaming. Algumas faixas que sobraram do Theli, uns covers, a trilha sonora que Chris compôs para um filme de arte que um amigo fez e algumas músicas “Therionizadas” (expressão do próprio Chris) dessa trilha. As turnês começaram a ter uma produção melhor e a contar com sopranos profissionais.

Já está de saco cheio da história? Calma, já estamos mais ou menos na metade.

Para o próximo disco, Vovin, Chris não tinha uma banda, mas músicos contratados para tocar ao vivo. Como achou que eles não seriam eficientes para o que ele queria, acabou contratando músicos de estúdio. O resultado, que saiu em 1998, é basicamente sinfônico. Tirando, a música (The Wild Hunt). Uma vez vi uma entrevista onde o Chris falava que esse era o disco favorito das mães dos fãs do Therion, e eu posso entender o porquê, já que é levinho e sossegado. Seja como for, Vovin vendeu mais ou menos o dobro de Theli, e o Therion virou a banda que mais vendia na Nuclear Blast. Uma música chamada Draconian Trilogy foi dividida em três faixas (a penúltima e as duas antes dela), e é das mais legais que o Therion já compôs.

Continuando, o próximo disco deveria ter sido um EP, mas acabaram colocando mais umas faixas ao vivo, alguns covers (Thor, do Manowar, ficou especialmente legal) e lançaram como um disco normal chamado Crowning Of Atlantis, em 1999. As faixas do disco têm mais ou menos a cara do Vovin, mostrando que essa seria a direção que o Therion tomaria daí em diante.

Contrariando o que eu falei sobre trocas de membros da banda, abrirei uma exceção para falar do cara que entrou antes da gravação do Deggial, de 2000: Kristian Niemann, um guitarrista formidável que, felizmente, está na banda até hoje. Mesmo assim, Deggial já estava todo pronto quando ele entrou, e o guitarrista só gravou, sem ajudar nas composições. Dessa vez a banda contou até com uma orquestra. Segundo Chris, o único instrumento sintetizado no disco é o órgão no começo de Via Nocturna. Nada mau. Ah, e tem uma faixa cantada pelo vocalista do Blind Guardian, chamada Flesh Of The Gods. Bem diferente das coisas normalmente alegrinhas da banda de origem do cara, diga-se de passagem (Nota do Corrales: Eu já acho Flesh Of The Gods MUITO mais alegrinha do que a maior parte das coisas do Blind Guardian) (Nota do Guilherme: Você obviamente não prestou atenção na letra dela, então, que de alegrinha não tem nada. :P) (Nota do Corrales: Claro que já prestei e não vejo nada de deprê na fixação alquimista de atingir a divindade – e por falar nisso: hum… carne de deuses…).

Para o próximo disco, Chris resolveu gravar um disco temático sobre a Mitologia Nórdica, e o resultado foi um dos discos conceituais mais legais que já ouvi. Secret Of The Runes, de 2001, já teve alguma participação do Kristian, na primeira faixa (Ginnungagap, que é o equivalente ao Big Bang na Mitologia Nórdica). O legal é que cada música seguinte à de abertura tem o nome de um dos mundos das crenças nórdicas, e a última música é a faixa título do disco. O disco não tem nenhuma faixa “convencional” como Flesh Of The Gods ou The Wild Hunt dos discos anteriores.

E, é claro, nenhuma banda tão bem sucedida deixa de gravar um disco ao vivo. Só que, ao contrário de bandas que resolvem gravar um disco ao vivo depois de apenas um ou dois discos, o Therion esperou um tempinho razoável. Live In Midgard, de 2002, é um disco duplo com músicas de vários shows da turnê do Secret Of The Runes, e é um disco especialmente interessante para quem não conhece a banda. Tem até música do primeiro disco nele. Um dos melhores discos ao vivo de todos os tempos, na minha opinião, tamanho o capricho e a qualidade das músicas.

Em 2004, a banda resolveu lançar não um, mas logo dois discos: Lemuria e Sirius B. Embora a produção dos discos seja parecida, o feeling das músicas é completamente diferente. Ah, e um dos pontos altos deles, para mim, é a riqueza da temática lírica (mas que frasezinha gay essa). Por exemplo, dragões gregos, runas nórdicas, continentes perdidos, deuses meso-americanos, história mundial, filósofos suecos e russos, estrelas perdidas… E por aí vai. As músicas são bem variadas também, largando um pouquinho as orquestrações e ficando um pouco mais acessíveis. E, coisa que ele não fazia desde os primeiros discos, Chris dá uns urros guturais em duas faixas do Lemuria. Muito legal!

Se isso serve de curiosidade, eu fui ao show dessa turnê. Pena que os discos só sairam no Brasil muitíssimo perto da data do show, e eu os comprei no próprio dia. Ah, e o Corrales também foi. E ele me ouviu gritar lá de cima, mas nem sabia quem eu era. Bom, eu também não sabia quem ele era. Também tem uma situação engraçada sobre eu quase ter conseguido afanar um daqueles wallscrolls plastificados grandões da turnê, mas ter falhado miseravelmente por um segurança notar que eu estava mancando.

No dia seguinte ao show, fui para a Saraiva Megastore de algum shopping que não me lembro o nome para pegar autógrafos dos caras. Pena que alguém mais assinou a capa do meu Of Darkness que eu queria que só o Chris assinasse. Eu admito que tava tremendo um pouco de ansiedade.

Em 2006, a banda finalmente lançou um DVD chamado Celebrators Of Becoming. Certo, não dá para chamar isso de um simples DVD. Segundo eles (e eu não duvido), foi o produto mais caro já lançado pela Nuclear Blast até hoje: quatro DVDs e dois CDs de áudio. Como daria muito trabalho escrever tuuudo o que esses discos têm, e eu já tive esse trabalho antes, é só clicar aqui para saber. Importei esse treco com frete por FedEx, e saiu muuuuuito caro, tipo a guitarra de brinquedo do Corrales, mas valeu a pena… Até eu saber que sairia um nacional pela metade do preço. Enfim, fã é fã, e, mesmo que se ferre, não admite. Enfim, acabei de fazer a mesma coisa com o box especial do Heaven And Hell (DVD e dois CDs de áudio, além de uns cacarequinhos bem-vindos), e não duvido nada que vá fazer um outro “D’oh” quando sair a versão nacional por um quarto do preço, também.

No comecinho agora de 2007, a banda lançou Gothic Kaballah, um disco duplo meio que considerado fraco pela crítica. Inclusive pela resenha do nosso grande amigo Bruno, também, que o delfonauta pode ler aqui. Bom… Eu sou um grande fã, e minha opinião pode ser suspeita, mas eu gostei dele. O maior problema, e acho que outros fãs concordarão comigo, é que tem muuuuita gente dando pitaco nele. As composições assinadas pelo Chris são no mínimo ótimas, e eu nem falarei nada sobre Adulruna Rediviva. Quem falar que essa música é ruim merece abraçar o Tony Ramos suado e sem camisa.

E é isso aí… Dia 28 agora a turnê do disco passou por São Paulo, e o DELFOS esteve lá para cobrir o show. Confira a resenha e as fotos amanhã, mas se você está lendo isso atrasado, é só clicar aqui.

Um parágrafo bônus para a edição japonesa desta matéria: os covers do Therion, em geral, são fenomenais, pois a banda interpreta as músicas do seu jeito. No site oficial (http://www.megatherion.com), o delfonauta encontrará alguns desses covers para baixar, e vale muito a pena. Especial atenção para o irreconhecível cover de Summernight City, do ABBA, que chegou a sair na edição especial do Secret Of The Runes.

Bem, delfonauta, chega de tomar seu tempo. A banda merece todos os fãs que conseguiu por esse mundão de Satã, pois batalhou duro, e conseguiu inovar sem estragar. Isso, meus caros, é tarefa para poucos.

Momento mais tremendão: Vamos falar de mulheres aqui, já que eu não fiz isso em hora nenhuma no texto. O momento mais tremendão fica com a Martina Hornbacher, que excursionou com a banda na turnê do Vovin. A garota é realmente linda.

Momento menos tremendão: Esse quem ganha é a Karin Fjellander, que excursionou na turnê do Lemuria e do Sirius B. Sabe a mulher do Haggar, O Horrível? Então, é mais ou menos desse naipe.

Galeria